As praças carregam um vasto significado político ao longo da história. Ainda no século XIX, o poeta da abolição, Castro Alves, escrevia: “a praça é do povo como o céu é do condor.” Verso contido na poesia “O povo ao poder”, conhecido entre aqueles que ocupam praças e ruas para lutar por direitos ainda hoje. Um verso que associa o espaço público da praça à liberdade dos pássaros.
Outra referência histórica importante sobre as praças são as ágoras da Grécia Antiga. Ágora era o nome que se dava à praça pública. Na Ágora ocorriam reuniões onde os gregos discutiam assuntos ligados à vida da cidade (pólis). Geralmente, as Ágoras ficavam localizadas na região central dos territórios.
Seja por sua relação com a liberdade ou por ser um espaço público do exercício da cidadania, a praça, quando popularizada, pode incomodar os poderosos. Afinal, no Brasil colonial, ela era um espaço fundamentalmente organizado para cultuar os valores das elites, tendo sempre em seu centro conjuntos arquitetônicos imponentes, como os centros de poder locais e eclesiásticos. Ocupar tais espaços elitizados pelos de baixo sempre foi visto, ao longo da história, como uma atitude petulante e insolente pelos de cima. De uma maneira ou de outra, historicamente, a Praça pode ser entendida como um ponto focal de organização da cidade (Caldeira, 2007) e de seus grupos sociais.
Trata-se também do local de síntese da memória coletiva de uma cidade. Ao depararmos com a Praça Tiradentes, em Ouro Preto, ou o Conjunto Arquitetônico-Cultural da Praça da Liberdade, em Belo Horizonte, encontramos importantes registros da história política local. Ao mesmo tempo, é o espaço do cotidiano de muitas famílias e suas lembranças como frequentadoras desse espaço. É a imbricação entre as memórias individuais e coletivas que conferem a Praça moderna o seu status de lugar de memória, tal qual proposto por Pierre Nora (1993).
Em Contagem, também temos praças que sintetizam memórias, como a Praça do Trabalhador, que remete à história dos trabalhadores que vieram pra cá após a construção da Cidade Industrial Juventino Dias. Outro exemplo é a Praça da CEMIG, que nos lembra da empresa pública criada para garantir energia para a industrialização de Minas, sediada em nossa cidade. Ou, ainda, a Praça Tancredo Neves, localizada em frente ao prédio da Prefeitura municipal, que nos lembra da figura que simboliza a mineiridade do fazer político no cenário nacional.
Para além do lugar da memória, do exercício da cidadania e da liberdade, a Praça é, incontestavelmente, o local do encontro. Trata-se de um equipamento público que possui um significado especial para famílias, amigos e parentes que vivem no seu entorno. É na Praça que as crianças encontram seus amigos. É ali que conversam depois da aula, falam sobre o seu dia a dia, se divertem jogando bola, brincam de esconde-esconde e pega-pega. É a Praça pública que garante a hora de lazer autônoma das crianças, enquanto mães e pais trabalham, seja no ambiente doméstico, na fábrica ou no comércio.
A Praça é também o local onde famílias passam seu tempo de lazer para poder brincar com seus filhos. É na Praça que mães e pais ensinam os filhos a andarem de bicicleta, a empinarem pipa e a chutarem a primeira bola. É nesse equipamento que os filhos dos trabalhadores possuem a oportunidade de ter uma “grande casa de lazer” e desfrutar da infância junto aos familiares e amigos. Já as mães veem na Praça uma possibilidade para a prática do exercício físico, não somente das crias, mas também de si próprias, nas famosas academias da cidade. É na Praça bem equipada que se pode caminhar, fazer exercícios, correr, praticar aulas, ler, meditar, brincar, distrair, etc.
A Praça deve ser considerada, portanto, como um espaço vital para a produção da saúde coletiva, da fruição do lazer, da cultura e da promoção do encontro. E ter uma Praça bem equipada, que possui não somente uma boa infraestrutura, mas também aulas de Yoga, dança e de esportes, pode reduzir danos e diminuir a fila em hospitais, principalmente daqueles acometidos por problemas cardiovasculares oriundos de uma vida estressante e sedentária. É na Praça que mães e pais praticam a (re)educação dos seus filhos e dos seus próprios corpos. Nesse sentido, como podemos perceber, a Praça é imprescindível para a produção coletiva de bem-estar social.
A Praça também é o espaço público capaz de desprivatizar o esporte, o lazer e a cultura. Enquanto alguns possuem o privilégio de poder frequentar clubes, as maiorias só podem jogar esportes olímpicos coletivos como o futsal, o basquete, handebol e vôlei através das quadras disponíveis nas Praças. Se a prática esportiva fosse vinculada diretamente ao uso sistemático da Praça – com professores bem remunerados para realizarem atividades nesses ambientes, dialogando diretamente com as escolas públicas – talvez o nosso funil de atletas no Brasil não seria tão pequeno. Além dos esportes coletivos, onde, senão nas Praças, as crianças podem andar de skate? Quantas “Raissas Leais” não estão por aí perdidas porque suas mães não conseguem encontrar uma pista para levá-las na cidade?
O que por vezes determina a existência e a sobrevivência de uma praça é a vontade política. Um prefeito pode preferir que uma Praça se deteriore e entre em desuso, desvalorizando a paisagem arquitetônica de uma determinada área da cidade. Faz isso com a intenção de sucateá-la para, quem sabe, vender os serviços de administração da praça para uma terceirizada. Ou, em casos mais radicais, deteriora o espaço vital de convivência coletiva da população para demoli-la e, com isso, contemplar os usuários de carro com vias que a atravesse.
Contagem sabe bem o que é isso, pois passou por administrações que desvalorizaram nossas praças, parques e espaços públicos, pré e pós-Marília. Ao contrário delas, em seus dois primeiros mandatos, Marília colocou as Praças como espaços vitais da cidade. Pra isso, criou uma fundação – a CONPARQ – para fortalecer e dar centralidade à política de valorização dos espaços públicos da cidade. Por sua robusta política de valorização e criação de praças, recebeu a alcunha de “Marília das Praças”, pela oposição que tentava desgastá-la. Mal sabiam eles que a forma pejorativa do apelido viria reforçar as qualidades do governo Marília.
Ao realizar projetos de criação e revitalização de Praças e Parques através da CONPARQ, fez com que o cidadão de Contagem criasse um sentimento de pertença à cidade, algo inexistente antes dos seus mandatos como prefeita. Até então, Contagem era uma cidade dormitório. Era comum ouvir da minha mãe e de muitos outros contagenses que conhecia, de que iriam “ao centro da cidade” referindo-se, lamentavelmente, ao centro da capital, Belo Horizonte, demonstrando um completo desligamento com a nossa cidade.
Quase 20 anos após o início do primeiro mandato de Marília, a situação é completamente diferente. A cidade hoje celebra a existência de suas praças, parques e espaços públicos. Marília nos fez ver que a Praça vai além do local de lazer, esporte, cidadania; é, principalmente, o local de pertencimento do cidadão.
Assim como na pólis grega, o cidadão contagense não pode mais dizer que não possui espaços públicos para poder circular, seja para se manifestar publicamente, seja para usufruir de Praças bem cuidadas, como a própria Marília de Dirceu, na Região do Inconfidentes/Riacho, recém-reformada ou a Praça da Glória, que teve sua revitalização entregue junto às luzes de natal.
Assim como em seus primeiros governos, Marília é atacada pelo investimento na revitalização das praças e pelas atividades culturais e shows que tem proporcionado atualmente nesses espaços. Como disse no início, a praça ocupada pode incomodar os poderosos. Ainda mais quando serve de espaço de democratização do acesso à cultura, ao lazer, ao esporte e ao bem-estar social, desprivatizando o direito à festa e à alegria.
Praça é a expressão de uma cidade. É o seu cartão-postal. É a memória coletiva de um território. É o chão da alegria, do lazer e do encontro. É na Praça onde nos sentimos cada vez mais contagenses. Com Marília, a Contagem das praças emergiu e deixou de ser cidade dormitório para se tornar a cidade do encontro e da alegria!
BIBLIOGRAFIA
CALDEIRA, Junia Marques. A Praça Brasileira: Trajetória de um espaço urbano- origem e modernidade. Tese de Doutoramento do Programa de Pós Graduação em História da Universidade Estadual de Campinas. Documento Fotocopiado, 2007.
Nora, P., & Aun Khoury, T. Y. (2012). ENTRE MEMÓRIA E HISTÓRIA: A PROBLEMÁTICA DOS LUGARES. Projeto História : Revista Do Programa De Estudos Pós-Graduados De História, 10. Recuperado de https://revistas.pucsp.br/index.php/revph/article/view/12101. Acesso em 16/11/2023.
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